SAMBALANÇO - A BOSSA QUE DANÇA
Quando o mundo parecia olhar apenas para os violões e seus banquinhos, se fartar das harmonias curvilíneas e dos tempos fortes deslocados do ritmo, o Rio de Janeiro paria um cenário que a decantação do tempo entenderia décadas depois.
O Sambalanço pode ser considerado a antítese da bossa nova, trilhando um circuito próprio e paralelo entre o final dos anos 50 e meados dos 60. Enquanto bossa-novistas queriam o brilho dos novos caminhos harmônicos mostrados pelo jazz, os sambalancistas buscavam o suingue. Se os primeiros contemplavam a cidade do sol, dos barquinhos e do mar, os segundos a tiravam para dançar. Por isso, o Sambalanço também é conhecido como “A Bossa que Dança”, título do recém lançado livro do jornalista Tárik de Souza e que, em breve, será lançado em documentário.
Sambalanço é um ritmo que surgiu no final dos anos 50 e início dos anos sessenta, nas boates de Copacabana e nos bailes nos subúrbios do Rio de Janeiro, misturando jazz, samba, bossa nova e música latina. O ritmo dançante contagiava quem estava nas pistas, conquistando o público de todo o Brasil e admiradores em todo o mundo.
O Sambalanço teve 3 pilares: Orlandivo, Ed Lincoln e Durval Ferreira, pai da cantora e produtora Amanda Bravo. Embalada por este suingue desde pequena, Amanda se dedicou à pesquisar mais profundamente o estilo, seus intérpretes e compositores e sua história. Além de ter atuado ao lado de Orlandivo nos últimos 10 anos em bailes e shows em que ele foi redescoberto pela nova geração e nas pistas de dança no exterior. Neste contato, Amanda pode aprender na prática toda a cadencia, suingue, interpretação e divisão rítmica do estilo, que muitas vezes é confundido com Samba-Rock.
Assim, nasce o show que a cantora vem apresentando todas as sextas-feiras no Beco das Garrafas. Amanda fala sobre o Sambalanço, sobre os famosos bailes dançantes do conjunto de Ed Lincoln em que consagrados músicos fizeram escola – como Emílio Santiago, Marcio Montarroyos, Paulinho Trompete, Leny Andrade, Wilson das Neves, para citar alguns, sobre outros ícones do estilo como Miltinho, Doris Monteiro, Silvio César e Pedrinho Rodrigues e mostra músicas como “Bolinha de Sabão”, “Mulher de 30”, “Palladium”, “Confissão”, “Brincando de Samba” e outras genuinamente sambalanços.
Amanda está em fase de gravação de seu primeiro álbum “Sambalanço” a ser lançado ainda este ano e que conta com a participação de grandes músicos que atuaram ao lado de seu pai, de Orlandivo, Miltinho e Ed Lincoln como João Donato, Paulinho Trompete, Alex Malheiros, Marcos Valle, Fernando Merlino, Rubinho entre outros.
“Durval Ferreira, morto em 2007, o violonista e guitarrista que teve um pé na bossa nova, como o quarto elemento do Tamba Trio, e outro no sambalanço, como integrante do conjunto de Ed Lincoln. Lincoln, esse cearense que começou como baixista do trio do pianista Luiz Eça, se transformaria depois, com seu órgão, no rei dos bailes. Se o sambalanço tivesse de eleger seu João Gilberto, ele seria Ed Lincoln.
O sambalanço foi colocado em segundo plano devido ao fato de investir em uma sonoridade mais dançante e descontraída, em contraponto à maior seriedade da “concorrente” bossa nova. Mesmo assim, teve forte aceitação por parte do público na época, gerando ídolos como Miltinho, Orlandivo, Ed Lincoln, Elza Soares, Silvio Cesar, Dóris Monteiro e tantos outros, além de ser a trilha sonora preferencial para bailes pelos quatro cantos do país.
Em comportamento que vem se transformando em padrão em nossa história recente, o sambalanço saiu de cena em meados dos anos 1970 e só foi resgatado graças ao interesse de pesquisadores e fãs de outros países, notadamente da Inglaterra e de outros países europeus e asiáticos. E também a artistas brasileiros das novas gerações, entre os quais Marco Mattoli, Amanda Bravo e Clara Moreno, além de pesquisadores como o próprio Tarik, Charles Gavin e outros.”
Julio Maria